· carreira  · 14 min read

Criando nosso plano de carreira e assumindo o controle do nosso futuro profissional

Um guia de como planejarmos nosso futuro profissional criando nosso próprio plano de carreira.

Quando falamos de plano de carreira, normalmente, pensamos em uma empresa que nos ajuda a crescer ou a subir cargo. É algo fortemente ligado a área de recursos humanos.

Plano de carreira é uma maneira estruturada de construir objetivos e ir subindo de cargo em uma empresa ou não.

Segundo o SEBRAE, um plano de carreira é:

Um programa estruturado que estipula o caminho que cada funcionário vai percorrer dentro de uma organização. Ele determina as competências necessárias para cada posição hierárquica e também qual é a expectativa da empresa em relação àquela posição.

Essa definição pode confirmar nosso viés de que plano de carreira é algo da empresa, somente para crescermos em hierarquia dentro de uma organização.

Mas eu não acho que uma empresa deve assumir o controle da nossa vida e ditar nossas habilidades profissionais.

Se algum dia a empresa nos mandar embora, por exemplo, então nossas habilidades específicas ficarão presas ao contexto desta empresa e corremos o risco até de estarmos defasados(as) no mercado de trabalho.

Devemos planejar nossa carreira nós mesmos(as) e buscar empresas que se encaixem dentro desse plano. Devemos assumir o controle das nossas carreiras e nos capacitarmos o máximo para poder escolhermos bem onde entramos.

Para uma empresa é “mais fácil” imaginar o que precisamos para subir de cargo dentro da própria organização, mas e nós, reles mortais, como saberemos o que aprender ou como vamos planejar nossas metas a alcançar para saber se estamos subindo de nível?

Neste artigo vou mostrar como montar um plano de carreira. Como saber o que precisamos para cada nível profissional e como montar as nossas metas.

Como o texto estava ficando muito grande precisei dividir em dois, no próximo artigo vou mostrar como podemos usar o Trello para organizar nosso plano de carreira.

Imagem de um(a) astronauta no espaço. Imagem da NASA no Unsplash.

Planos de carreira em Y ou em T

Existem diversas maneiras de trilharmos nossa carreira e nenhuma delas é uma bala de prata. Existe o plano em Y, em T, em W, em B, em M, etc. Vamos analisar os planos em Y e em T que são os mais comuns no nosso universo do desenvolvimento de software.

Plano de carreira em Y

Mais comum em empresas tradicionais, o plano em Y é aquele modelo onde vamos evoluindo em nossas funções, “batendo” metas profissionais até um ponto onde escolhemos se desejamos seguir carreira na área de gerência ou nos especializarmos ainda mais em nossa área de atuação.

Hoje em dia as faculdades e algumas pessoas também indicam que a pessoa deve empreender ao invés de virar gerente, mas isso pode variar muito de perfil para perfil.

Plano de carreira em T

O plano em T é o modelo em que vamos seguindo cumprindo nossos objetivos e nos tornamos especialistas em algo, mas também aprendemos outras coisas de outras áreas afim de nos envolvermos mais em uma empresa ou projeto como um todo.

Se formos exemplificar ainda mais com a nossa área de atuação, desenvolvimento de software, teremos:

  • Y: uma pessoa que trabalha como desenvolvedora de software e vai evoluindo até se tornar sênior, onde ela escolhe se continuará na área técnica e se especializará mais ainda ou se muda para a área de gestão
  • T: uma pessoa que trabalha como desenvolvedora frontend, por exemplo, domina tudo sobre frontend, mas também conhece outras áreas, como backend, e consegue se envolver totalmente no desenvolvimento de um produto (mais conhecido como fullstack developer)

Perceba que nesses dois modelos, provavelmente, existem dois perfis diferentes de pessoas. Existem pessoas que trabalham a vida inteira como devs e de repente decidem que desejam trabalhar em gestão de pessoas e existem pessoas que trabalham a vida inteira como devs e são monstruosamente especialistas em suas áreas e não pensam em sair da área tecnica por nada.

É por isso que eu não concordo com pessoas que afirmam que todo mundo deve começar como front ou back, aprender sobre as outras áreas e buscar se tornar fullstack como plano único de carreira ou que alguém só “cresce” profissionalmente quando se torna líder técnico ou gestor(a).

O melhor caminho entre os modelos de especialização profissional é analisar o que nós gostamos de fazer e buscarmos focar em melhorar nisso. Devemos melhorar nossos pontos fortes e nos encaixarmos em algo que realmente faça sentido para nossa vida profissional com pelo menos um pouco de satisfação pessoal.

O mercado de trabalho tem espaço para todos os perfis.

Caso tenhamos abertura com o RH da empresa, podemos tentar descobrir onde nos encaixamos através dos testes de personalidade que eles aplicam. Também conseguimos isso procurando profissionais de psicologia que podem nos ajudar a descobrir esses pontos fortes.

Definindo nossas competências profissionais (as metas)

Depois de nos analisarmos bem e de definirmos nosso modelo de especialização (em Y, em T, em I, em H, em M, etc), é hora de definir as competências que iremos buscar. Traçar nossas metas profissionais.

Como eu comentei acima, é mais fácil para uma empresa olhar para o seu quadro de funcionários, projetos e definir as nossas metas do que nós mesmos na base da procura ou da tentativa e erro, pois, quando começamos a pesquisar sobre o que devemos aprender para trabalhar na área x em que nos identificamos é comum ficarmos mais confusos(as) ainda.

Isso acontece porque, quando perguntamos em foruns, cada pessoa fala uma coisa. Cada pessoa passou por uma experiência diferente e pode achar que aquilo é o caminho que todo mundo deve seguir. Por isso existe tanta resposta diferente e tanta briga nos foruns de tecnologia.

É comum ouvirmos coisas como:

  • frontend que não sabe JavaScript não passa de recortador(a) de layout
  • fullstack é o futuro da área de desenvolvimento de software
  • backend que não domina 100% de bancos de dados e infraestrutura não é backend
  • se você não buscar se tornar fullstack ficará sem emprego daqui 5 anos
  • dev mobile que só sabe Android (ou vice-versa) não é dev mobile que se preze

Essas frases, além de preconceituosas e bem presunçosas, não são, de fato, o que devemos guardar em nossa mente para planejarmos nossa carreira.

Quando lemos ou ouvimos esse tipo de coisa, devemos tomar cuidado para não assumirmos isso como verdade absoluta (o que pode acontecer dependendo do nosso nível de admiração com a pessoa que fala), mas devemos nos manter céticos(as) e questionadores(as) quanto a tudo o que é dito na internet.

Então como podemos definir o que devemos aprender?

Nós devemos analisar o mercado de trabalho. Devemos pesquisar e analisar de maneira estatística o que está acontecendo no mercado. Não acreditar somente na opinião das pessoas.

Entendendo o que o mercado precisa

O mercado de trabalho pode variar de região para região, de país para país e até mesmo de época. — É igual fruta de estação.

Antes mesmo de entender o que o mercado precisa, nós devemos analisar as os nossos desejos pessoais, pois muita coisa pode mudar em nossas escolhas se soubermos exatamente o que nós queremos para o nosso futuro.

Responda em um papel ou no seu editor de textos:

  • Quais os tipos de empresas que eu quero trabalhar?
  • Quais os ramos de atuação das empresas que eu quero trabalhar?
  • Em qual função eu desejo atuar?
  • Em que posição desejo estar daqui a 5 anos?
  • Como eu quero que as pessoas me reconheçam profissionalmente?

Baseado nisso podemos começar nossa pesquisa de mercado e entrar nos sites das empresas ou de vagas e pesquisar por oportunidades na função que desejamos e nas empresas que gostaríamos de trabalhar.

Devemos pesquisar o máximo de vagas relacionadas ao que buscamos profissionalmente e anotar quais são os requisitos dessas vagas.

Por exemplo: se eu quero entender o que o mercado espera de uma pessoa de frontend, então eu vou pesquisar o máximo de vagas possíveis com o título frontend, front-end, front end, front end developer, frontend developer, etc.

Depois de várias anotações, será hora de agrupar esses dados e transformar em informação útil. Pegamos o que é repetido em todas as vagas e colocamos como “obrigatório” em nossas metas e o que não é repetido como um “plus”.

Com essa lista de requisitos, sabemos agora o que devemos estudar/aperfeiçoar e, caso desejemos nos destacar em uma oportunidade específica buscaremos então os pontos extras que entraram como plus. Caso desejemos nos destacar do restante do mercado, então estudaremos tudo o que foi anotado.

OBS.: A opção de estudar tudo o que foi anotado não é a melhor caso você queira arrumar seu primeiro emprego na área ou precise arrumar emprego rápido.

Mas e se nosso objetivo for sair do país ou mudar de cidade/estado?

Quando nossa ambição vai mais longe do que nossa localidade, então devemos começar a buscar fora dali.

No estado de São Paulo é bem normal profissionais migrarem para a cidade de São Paulo para buscarem melhores oportunidades de emprego do que na região metropolitana ou interior. O mesmo tem acontecido recentemente onde nossos profissionais estão indo para fora do país.

Nestes casos, ao invés de olhar somente as vagas de empresas locais, é importante que façamos uma busca um pouco maior, adicionando outras cidades, estados ou países no range da busca para conseguirmos mais indicadores.

E se desejamos nos tornar referência de mercado de trabalho?

Esse também é o sonho de algumas pessoas: se tornar referência no mercado de trabalho.

Isso acontece pelos mais variados motivos, desde para poder contribuir com a comunidade, para nunca ficar sem emprego, poder escolher emprego ou até mesmo por ego/mania de competição.

Independente da nossa motivação, a maneira de conseguir isso é a mesma das demais: devemos aumentar ainda mais o range de busca adicionando perfis das pessoas que nós achamos referência de mercado e analisando o que elas fizeram para conseguir esse status.

Elas escrevem artigos? Então devemos começar a escrever artigos. Elas palestram? Então devemos começar a palestrar. Elas dão treinamento? Então devemos começar a ministrar treinamentos. E assim vai.

E se mudarmos de ideia no meio do caminho?

Eu, pessoalmente, fiz a minha lista a alguns anos atrás — em 2018 fazem 3 anos, para ser mais exato — para a área de frontend, quando eu desejava me especializar somente em client-side com JavaScript e as famosas SPAs.

Foi essa aqui: Trilha de estudos - desenvolvedor frontend iniciante

Na época eu queria usar o AngularJS para dominar o mundo, mas hoje em dia mudei de ideia e busco os skills para me tornar um profissional fullstack, onde vou tentar dominar o máximo de frontend e aprender muito sobre backend.

Isso aconteceu porque eu gosto de criar vários projetos pessoais, desde uma simples página para armazenar minha lista de compras até um app de gestão financeira que estou planejando pra mim. Se eu dominar somente o frontend vai me faltar habilidade para criar esses meus projetinhos e ser feliz.

Essa mudança de planos é bem normal de acontecer em nossa carreira. Podemos mudar de ideia no meio do caminho e até mesmo mudarmos de área/foco. O que não podemos mudar é a nossa determinação. Devemos buscar sempre nos manter com a motivação lá em cima, para que as adversidades da vida não nos façam desistir do que nos deixa felizes.

Agora, imagina se prendermos nossa vida a uma empresa, será que poderíamos mudar de caminho a qualquer momento? Dependendo da empresa, sim, mas a grande maioria, infelizmente, não tem essa opção.

Como criar as metas de modo crescente

Até agora eu disse como pesquisar o que precisamos para trabalhar em uma área de atuação, mas eu não falei como crescer profissionalmente dessa maneira.

Mais uma vez, aqui, vamos as pesquisas.

Devemos analisar, dos nossos resultados de busca, o que é pedido para profissionais em início de carreira, no meio (plenos), para profissionais avançados(as) e para especialistas (caso desejemos nos tornar especialistas, claro).

Imagina que desejamos nos tornar fullstack e analisamos diversas vagas, perfis e empresas e chegamos no seguinte consolidado:

Requisitos

  • HTML, CSS, JavaScript, React, Testes de Software, Integração Continua, Deploy Continuo, Agile, Node, MySQL, MongoDB, AWS, Google Cloud, Git, Linux, SEO, Inglês

Plus

  • Nextjs, Pair Programming, Gatsby

Especialistas/Modo Exódia

  • Além de todo o resto, Golang, Ruby, Rust, PHP, Java

Como saberemos o que é subir de nível com essa verdadeira sopa de letrinhas?

Devemos voltar as pesquisas e começar a procurar por nível profissional e responder as seguintes questões:

  • Quais os requisitos que encontrei para início de carreira?
  • Quais os requisitos que encontrei para intermediário?
  • Quais os requisitos que encontrei para avançado?
  • Quais os requisitos que encontrei para especialistas?

Para facilitar, sempre que encontrar uma vaga com descrição xyz junior/pleno/senior anote separadamente para depois fazer uma validação dessas habilidades.

Baseado nessa análise conseguimos montar listas para cada nível profissional e essas serão nossas metas.

É ruim seguir planos de carreira de outras pessoas?

É comum que as pessoas compartilhem suas trilhas. Depois de algum tempo na área de frontend, eu montei outra lista ainda mais completa sobre como se tornar um(a):

Visando o que foi dito até agora, que devemos pesquisar sempre para o nosso contexto, seria ruim utilizar uma lista dessas para basear nosso plano de carreira?

A resposta é: depende.

Se o seu contexto for parecido com o da pessoa que montou o plano, tudo bem. Senão, utilize o plano da pessoa como base e modifique para os seus objetivos.

Dividindo tudo em metas de curto, médio e longo prazo

Sabendo o que precisamos para sermos considerados(as) junior, pleno, senior ou especialista, podemos então dividir mais ainda para criar nossas metas de curto, médio e longo prazo.

Esta talvez seja a tarefa mais difícil de todo o trabalho para pensar em nosso plano de carreira.

Baseado nos tópicos que coletamos para os níveis, devemos pesquisar o máximo sobre os tópicos que sobraram como requisitos. Essa pesquisa vai servir para identificarmos recursos para aprender.

Ex.: pesquisando sobre HTML podemos cair nos links do MDN, da Mozilla, no Tableless e sites relacionados ao assunto.

Normalmente encontraremos coisas como “HTML do zero”, “HTML completo”, etc. e é disso que precisamos.

Também podemos perguntar em foruns sobre como aprender isso — só não pergunte num forum sem antes pesquisar, as vezes a resposta está a uma busca de distância, viu. ;)

Com o máximo de recursos em mãos, então podemos definir metas como:

  • ler livro/apostila/artigos até dia x
  • assistir palestra/vídeo/curso até dia y
  • fazer um curso de xyz

E baseado nisso temos um sistema de crescimento onde vamos “subindo de nível”.

Um texto relacionado que pode nos ajudar a planejar nossos estudos é este aqui:

Conclusão

Lembrando que este artigo não é um “chamado anarquista” para que entremos em guerra com as empresas que não tem modelo flexível, “as maiores vilãs da sociedade moderna”. Não é nada disso. Meu desejo é que você se empodere e possa ter escolhas melhores na vida do que ficar preso a um CNPJ.

A lição mais importante até aqui, que eu gostaria de deixar para reflexão, é que precisamos planejar nossa carreira baseada em dados e estatística e não em achismos ou especulações. Precisamos manter o ceticismo e pensamento crítico quando lemos ou ouvimos algo por aí.

Pesquise muito, reflita bastante, conheça o mercado de trabalho, monte seu plano de carreira e foque nele até conquistar seus objetivos profissionais. Se tivermos foco em nossas “metas” será mais fácil não perder tempo com coisas que não nos ajudam a atingir o objetivo final.

Essas metas também irão nos ajudar a manter a calma e foco em nossa carreira por termos tudo bem definido em nossa mente. Talvez isso ajude a controlar aquela ansiedade que tanto nos aflige.

No próximo artigo vou mostrar como estou utilizando o Trello para organizar minhas metas profissionais. Por enquanto você pode ler este outro também sobre organização pessoal:

Neste outro artigo eu comento sobre o que eu estou focando agora em minhas metas profissionais:


Referências

Share:
Back to Blog

Related Posts

View All Posts »